24 nov 2011

Por que é tão difícil traduzir um escritor brasileiro?


Entrevista a Cliff Landers concedida à Revista Veja, em junho de 2011.

Uma tradução falha custa ao autor 20 anos. Esse é o prazo para que outro profissional
possa esboçar uma nova versão da obra e, assim, tentar um improvável retorno às
prateleiras. Por isso, a tradução pode ser considerada uma arte, pelo cuidado,
dedicação e habilidade que requer. E também pelas paixões e fúrias que desperta.
Jorge Amado costumava dizer que uma boa tradução era aquela de que ele não entendesse uma palavra. Desta forma, não teria chance de ver o tempero de seus livros esvair-se
a cada página.

Em tempos de crescimento e consolidação de escritores brasileiros no exterior o americano Cliff Landers, com a propriedade que lhe é de direito, fala ao site de VEJA sobre os meandros da profissão. Um dos tradutores atuais mais requisitados – que já verteu para o inglês clássicos de Jorge Amado e José de Alencar, dos imortais João Ubaldo Ribeiro, Nélida Piñon e Moacyr Scliar, e do não menos importante Rubem Fonseca -, explica como funciona o seu ofício. E como se comporta o recluso mercado editorial americano, ideal tão distante dos escritores brasileiros.

Quais autores brasileiros e estilos literários se mostram mais difíceis para tradução?

Até hoje, tenho tido a sorte de trabalhar com autores brasileiros cujos estilos
são transparentes e compreensíveis, embora naturalmente haja traços individuais que caracterizam suas obras. Apesar de ter enfrentado pequenos problemas léxicos –por exemplo, com gíria e com questões referentes a diferenças culturais e ortográficas -, até o momento nenhum dos desafios tradutórios mostrou-se insuperável. O mais difícil, já que o inglês é uma língua pragmática, é enxugar algumas frases do português.

Qual a relação entre os tradutores e escritores? Costumam trocar ideias?

Isso depende de vários fatores: da disponibilidade do autor, do prazo de entrega
do manuscrito, da compatibilidade entre autor e tradutor e do número de dúvidas linguísticas encontradas no projeto. Alguns autores são totalmente inatingíveis, como um famoso escritor português cujo romance traduzi. Outros, como o célebre Rubem Fonseca, são cem por cento acessíveis ao tradutor e sumamente prestativos.

Que artifícios os tradutores usam para se manter fieis ao estilo do escritor?

Cada tradutor, forçosamente, tem de escolher um modo de transmitir ao leitor da
língua-alvo informações já conhecidas pelo leitor da língua-fonte. No caso de uma obra de não ficção, uma nota de rodapé chega a ser praxe. Mas o que fazer em um romance?
Eu, particularmente, procuro de evitar ao máximo o uso de notas no rodapé. Às vezes, interpolo ideias, como no exemplo: “Moram no Leblon, um dos bairros mais afluentes do Rio”, uma maneira de dar uma informação sem apelar para as notas no fim da página. Na tradução de Iracema (José de Alencar), tive a oportunidade de escrever uma “Introdução do Tradutor”, em que expliquei o vocabulário especial utilizado (oriundo do Tupi-Guarani) pelo autor. Outras vezes, busco uma ideia equivalente, e, em vez de “guaraná”, uma bebida que ninguém conhece nos Estados Unidos, escrevo “refrigerante” (soft drink, em inglês).

Na opinião do senhor, há grandes autores brasileiros que “se perderam” na tradução?

Eu diria que o exemplo clássico dessa perda é a tradução feita nos anos 1960 de
Grande Sertão: Veredas (chamada em inglês The Devil to Pay in the Backlands). Ela é considerada uma tentativa fracassada tanto no Brasil como nos EUA. E, infelizmente, quando se dá uma tradução falha, se impede na prática que se esboce outra tradução por pelo menos vinte anos. No caso da obra-prima de Guimarães Rosa, infelizmente, até hoje não houve outra tentativa. A tradução de Macunaíma (Mário de Andrade), mesmo sendo o romance mais representativo do modernismo brasileiro, foi um desastre – ainda hoje não recuperado. Mas temos de perdoar os tradutores pelas dificuldades linguísticas oferecidas por dois clássicos do século passado.

O senhor acha que existem estilos literários mais atraentes para o mercado americano?

Como foi provado pelo estrondoso sucesso da trilogia Millenium, de Stieg Larsson, o policial é um gênero que, ao que parece, nunca deixa de atrair o grande público. No entanto, para o americano o “estilo” é menos importante do que a atração intrínseca do romance. O ideal são personagens bem delineados, um enredo que prenda o leitor e algo que faça com que ele continue virando a página. Suspense é uma outra opção.

As grandes editoras se mostram receptivas aos brasileiros ou a tradução se dá principalmente pelas universidades americanas?

De modo geral, as grandes editoras americanas só se interessam em publicar traduções de obras que possuam forte potencial comercial, a chamada mentalidade jackpot. Isto é, obras de autores já consagrados – um prêmio Nobel como José Saramago -ou obras do gênero policial e de suspense. Paulo Coelho teve sucesso sem igual nos EUA não por ser um autor brasileiro,mas pela grande receptividade ao gênero autoajuda. As imprensas acadêmicas, porém, recebem melhor as obras proeminentes da literatura, porque podem ser de interesse de estudiosos. É o caso de A Formação das Almas, de José Murilo de Carvalho. Naturalmente, em se tratando de editoras universitárias, a repercussão é limitada, ficando quase exclusivamente no âmbito acadêmico, distante do grande público.

14 nov 2011

Medo de cobrar o justo?

Esta charge do Mox, colega tradutor, que "emprestei" de um post da também colega Sheila Gomes reflete uma verdade comum e cruel: a nossa baixa autoestima, somada às necessidades, ou seja, aqueles pequenos vícios de cada dia como comer, pagar aluguel, sustentar família, cursos e etcéteras diversos, pode fazer estragos na nossa vida profissional! E mental!

Bem, melhor ler o post da Sheila, não é necessário levar os "empréstimos" tão longe!

3 nov 2011

III Conferência Brasileira de Tradutores do ProZ.com


Rio de Janeiro, 12 e 13 de novembro de 2011.
Como de praxe, o objetivo da conferência é proporcionar aos profissionais da tradução momentos de aprimoramento técnico, troca de informações, debate, networking, prospecção de clientes, reflexão, e, claro, descontração.

O Rio de Janeiro é conhecido em todo o mundo por mesclar harmoniosamente belezas naturais e uma vida cosmopolita bastante agitada. É a segunda metrópole do país em termos econômicos e está se preparando para receber dois dos maiores eventos internacionais: a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Quem está aqui, sente a cidade borbulhar em novas oportunidades e melhorias. Encontre mais informações sobre atrações turísticas, acomodação e transporte na cidade no Guia Oficial da Cidade do Rio de Janeiro , disponível em português e inglês.

Então, pegue leve, dê uma pausa nos trabalhos e prolongue seu feriado de Proclamação da República (15 de novembro) para rever amigos antigos, conhecer pessoas novas ou encontrar com quem você já conhece, mas apenas virtualmente. E, claro, não deixe de fazer uma visita aos pontos turísticos da Cidade Maravilhosa!
Local

Contando com o patrocínio do Curso de Pós-Graduação em Tradução da Universidade Gama Filho , nosso evento será realizado nas instalações do campus Barra da Tijuca - Shopping Downtown:

Av. das Américas, 500
Blocos 5 e 7
Barra da Tijuca - Rio de Janeiro
CEP: 22640-100

Além das instalações reservadas na Universidade, os participantes poderão desfrutar da grande variedade de serviços oferecidos pelo Downtown, um shopping a céu aberto que conta com restaurantes diversos, estacionamento, farmácias, bancos, etc., sem que sejam necessários grandes deslocamentos durante a conferência. Consulte o site do Downtown para obter mais informações sobre os serviços oferecidos.

Mais informações e inscrições:


http://www.proz.com/conference/215